Abertura econômica não é livre comércio

A abertura econômica precisa ser concebida como uma pauta que classifica se um programa é de esquerda ou de direita? Faz sentido ela ser tomada como exclusividade da direita ou do liberalismo ortodoxo? Para mim não. A ampliação do comércio exterior deveria ser uma bandeira da esquerda.

Livre comércio é uma quimera ideológica do liberalismo tanto quanto a economia totalmente planificada é uma quimera dos socialistas dogmáticos. Abertura comercial envolve estudo geopolítico, planejamento econômico, tentativa-erro, avaliação constante. Abertura comercial está vinculada a ideia de uma reforma tributária ampla que simplifique impostos e torne mais justa nossa matriz (consolide impostos municipais e estaduais sobre o consumo em um sobre valor agregado, que tribute mais herança e propriedade, por exemplo).

Acompanhem esse conjunto de dados e pensem comigo.

A participação do Brasil no comércio internacional é muito baixa.

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Somos um país bastante isolado nas cadeias globais.

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Se estamos dispostos a nos pautar em evidências está na hora da esquerda superar mais esse dogma. O protecionismo “desenvolvimentistas-nacionalista” só faz sentido quando referendado pela empiria. Hoje o Brasil comercia bem menos que países com seu mesmo nível de renda.

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Quando nos comparamos com países emergentes com população semelhante, estamos muito abaixo do ponto de vista do comércio internacional.

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O dados indicam que um maior protecionismo sistêmico inibe o comércio e por consequência o emprego, a competitividade da economia e o trabalho.

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Uma maior abertura comercial, impulsiona um crescimento maior, isso significa mais arrecadação e maior capacidade de investir do Estado, e mesmo de garantir um cinturão de proteção social mais sólido e amplo.

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Em 20 anos, apenas os setores de vestuário, têxtil e couro sofreriam cortes de vaga de emprego maiores que 0,5%. Os segmentos são considerados os com maior proteção comercial. Os menos protegidos empregaram mais.

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É preciso que a esquerda mergulhe nesse debate, incorpore essa agenda. Desafio é desenhar políticas que mostrem os benefícios de uma maior abertura e diminua a resistência de alguns setores. Um programa amplo de elevação da produtividade e da renda é o que precisamos. Toda uma migração de mão de obra tem de ser pensada, mecanismos de ponderação sobre determinados setores. Essa não é uma reforma rápida e conjuntural, envolve inúmeros fatores, mas é preciso começarmos a pensar nisso, a direita não pode ser a única a pautá-la.

A esquerda precisa entender que uma maior abertura econômica é uma forma de atacar determinados monopólios e de fomentar atividades econômicas mais sofisticadas em regiões mais pobres. Além disso, é uma forma de desnudar o conflito distributivo que o Brasil vive.

A literatura empírica recente sugere forte causalidade entre abertura em serviços e aumento da produtividade e das exportações industriais. Uma maior integração com o comércio internacional fomentaria o crescimento econômico e esse é o objetivo de todos espectros políticos.

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Tarifas menores trariam benefícios aos consumidores mais pobres. A redução das tarifas não resultaria em perdas tributárias importantes, pois elas estão atualmente em cerca de 0,5% do PIB; e os efeitos de produtividade levariam provavelmente ao aumento das receitas tributárias. A abertura para a economia mundial costuma ter efeitos favoráveis para os pobres nas economias de mercado emergentes. No entanto, para alguns trabalhadores, as realocações envolverão a necessidade de busca de outro emprego. Cabe dizer que a rotatividade no Brasil já é alta.

Por óbvio que reduzir tarifas e rever regras de conteúdo nacional são medidas a serem calculadas de modo que não se deixe ultra-vulnerável determinados setores, a ponto de inviabilizá-los imediatamente. Há de se identificar o quão algumas regras fortalecem monopólios ao invés de proteger a indústria. De forma contra intuitiva, boa parte dos estudos tem indicado que a abertura comercial potencializa a produtividade e o desenvolvimento da indústria e não o contrário.

Com base nesses dados é que devemos travar o debate na esquerda. Os nacionalistas desenvolvimentistas tem de observar os efeitos da abertura comercial, mais do que se debater com suas premissas ideológicas.

Fontes dos gráficos:

https://t.co/Bnu68s3qWx

https://static.poder360.com.br/2018/03/relatorio-sae-08-03.pdf

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