Dia do Professor

Ser professor é minha melhor roupa. Aliás, coloco minhas melhores roupas para dar aula. Procuro estar presente sempre na melhor forma. Explico para meus alunos (estudantes de licenciatura) o meu plano de carreira (Institutos Federais) como exemplo de valorização profissional, em que pese os ataques que nossa regulamentação docente tem sofrido. Mostro a eles que minhas inúmeras tarefas como docente (pesquisa, ensino, extensão, gestão, colegiados, conselhos) requerem muita responsabilidade e preparo.

Deixo claro que ser professor é exercer uma função poderosa, que nossa autoridade profissional vem de nossa autoria, daquilo que produzimos, que propomos e de nossa capacidade de comunicação e mediação. De um lugar hoje de privilégio (que deveria deixar de ser e passar a ser regra das carreiras), busco inspirar a valorização também simbólica da profissão, a autoestima. Quero que eles me vejam como eu vi alguns professores que mobilizaram meus afetos e minha curiosidade científica, epistemológica, artística.

Meus alunos, futuros professores da educação básica, irão enfrentar uma realidade ainda muito desafiadora em sua profissão. Ser professor no Brasil é ganhar, em média, 78% do que ganham os profissionais com mesma titulação. Esse dado é de 2020, já foi de 60% em 2012. Graças ao Fundeb e a aprovação do Piso Salarial do Magistério esse avanço foi possível. Veja como é importante ver o filme mais do que a foto nesse caso, isso vale um tanto para os resultados de aprendizagem como um todo também. A meta 17 do Plano Nacional de Educação, de equiparação salarial, tinha como prazo 2020, contudo, é necessário persegui-la incessantemente.

Há uma diversidade de planos de carreiras e de remunerações entre estados e municípios brasileiros, a atratividade da carreira passa por avançarmos em ambos, em especial naquelas redes de regiões mais pobres, a função redistributiva e supletiva da União terá papel fundamental nisso.  

Entre quarenta países analisados pela OCDE, os ganhos dos docentes brasileiros no início da carreira são os menores de todos, inclusive de países como México, Colômbia e Chile. Os professores brasileiros têm salário inicial de US$ 13,9 mil anuais. Na Alemanha, por exemplo, o valor é de US$ 65 mil, na Espanha US$ 43,1 mil, nos Estados Unidos US$ 41,2 mil, na Coréia do Sul US$ 33,4 mil, na Turquia US$ 28,8 mil. Como comparar resultados de aprendizagem diante de condições de valorização tão desiguais?

Um estudo realizado em 35 países pela Varkey Foundation mostra que o Brasil é o país onde os professores têm menor prestígio na sociedade. A profissão é vista como sendo desrespeitada e mal paga. Apesar dos avanços observados nas últimas décadas em relação ao financiamento educacional, a sociedade ainda identifica o enorme passivo que existe no que tange a valorização dos professores.

A escola é o lugar onde desaguam todas as desigualdades e mazelas experimentadas pela sociedade. É lá que está o professor, o ator responsável por planejar, organizar, gerir, ensinar, conviver, mediar e acolher. Ser professor em um país injusto e desigual requer, além da sólida formação teórica e prática, paciência, empatia, senso de solidariedade e compromisso público.

Não recebemos nas escolas estudantes plenamente cuidados, alimentados, acolhidos afetivamente. Recebemos, em grande escala, sujeitos de direitos cuja vida é marcada pela sistemática violação desses direitos.  Ensinar no Brasil não é o mesmo que ensinar nos países mais ricos do mundo.

Tornar a profissão docente uma carreira respeitada e desejada é um imperativo para um país que se pretende desenvolvido e soberano. Infelizmente, a precariedade das condições de trabalho e o aumento das contratações temporárias, em detrimento dos concursos públicos, indicam que estamos no caminho da naturalização da desvalorização da carreira docente. Bons salários e planos de carreira, estratégias inovadoras de seleção e fomento para que jovens de destaque façam licenciaturas e priorização orçamentária de longo prazo da educação e da ciência e tecnologia devem ser ações inequívocas para o planejamento das políticas públicas dos próximos anos.

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